28 de novembro de 2010

Se torna essencial

             
                  Estou renovada, ainda em branco, prestes a ser escrita. Sem vazio, nem copo meio cheio. Imensa, sim, a vontade dos dias que vem, de que as coisas aconteçam.

            Simplista que é, o nada me trouxe certa paz, e muita harmonia. Descontei toda minha urgência no esvazio que era ser inteira em tudo, e de repente, eu mesma sentada com o aspecto da maior indiferença possível postado no rosto. Quem sabe, algum sorriso no canto da boca, ensaiado. Não mais no olhar o semblante arrasado, de meses atrás. Muito pouco, nada.
            O nada fez um puta favor pra mim: me apresentou uma prima distante, a nenhuma. E quando as pessoas vinham cheias de aflição e ansiedade em minha direção, era sempre as mesmas respostas quase decoradas: nenhuma novidade, nenhuma sensação, nenhuma culpa.
            Adotado o nada como meu mascote, vejo só lucro, no horizonte: não conto detalhes da minha vida, falo menos, penso muito e me exponho pouco. O nada que veio mostrou um caminho pro tudo que nem ele sabia ser possível: aqui dentro, internamente. Eu, e o tudo. Reaproximação, casamento bem sucedido. Daqueles que um quase se torna o outro. Me tornei meu tudo, e me deixei nadar no que a vida oferta, em cada oportunidade misteriosa à mim destinada.
           Não quero o nada específico, nem ninguém em especial. O que vem até nós sim, seja o tamanho que possua, é possível, é pleno. Se torna essencial.

Camila Paier

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