27 de outubro de 2012

Sinceramente



Ando precisando de um lugar distante, onde não haja esse cotidiano, essas mesquinharias, esse mundo de falsidades. Já não sei se posso, não sei mais em quem confiar. Quando as palavras insistem em me enganar, e os gestos, já não sei mais como interpretar.

É sempre um inconveniente atrás do outro, um diz que diz que insuportável. Tô cansada de aguentar a vida dos outros, mas não consigo ser egoísta ao ponto de enxergar apenas meu próprio umbigo. E assim vou apanhando, dia após dia, acreditando sempre no bendito ditado " o bem que você fizer hoje, um dia voltará em dobro pra você", triste ilusão.


Anne Ribeiro

25 de setembro de 2012

Meninos de costas


Não me sonhe, por favor. Pessoas que acham que podem me amar me ofendem. É sempre muito pouco o que elas podem e é sempre muito diferente do que deveria ser amor o que elas oferecem.

Eu custo a suportar a banalidade do meu ser. Eu custo a aceitar uma relação como a que qualquer um poderia ter. Eu seria mais feliz se eu não me achasse melhor do que a minha vizinha. Mas eu sou infinitamente melhor que ela. Eu e minhas crises de ansiedade somos seres solitários, arrogantes e multiplicados por megalomanias. São mil vezes cem anos de análise e nada. Eu continuo me achando melhor que o amor igual e idiota que se oferece por ai. Melhor do que os casais e seus dilemas de festas de finais de ano e seus sonhos de vestidos brancos e seus cachorros e sacadas de predinhos neoclássicos e planos médicos familiares. Chato, chato, chato.

É sempre nojento quando aparece alguém que quer tentar me amar. Sempre daquele jeito burocraticamente aos poucos e equilibrado e respeitado pela vida social e empresarial e natural e dentro da rotina dos humanos normais do planeta que precisam ir aos poucos porque a vida em sociedade empresarial e natural e tudo isso. E então eu tenho prazer de tornar a vida de todo mundo que se aproxima de mim, achando que pode me amar igual meu vizinho ama a minha vizinha, um inferno. É que, por completa infelicidade, eu sempre acho a minha grama infinitamente mais verde.

O certo, se é que existe o certo, era eu gostar de assistir ao ato da conquista sentada confortavelmente em uma soberba cadeira de rainha. Homens adoram mulheres que se permitem galantear e sorrir entregues para seus lampejos de semi genialidade. O problema é que eu quase sempre sou muito mais engraçada e rápida e semi genial que eles. E estou tão perto de virar um homem que tenho preferido a minha masturbação a ter problemas para conviver com outro ser humano que, por experiência própria, só vai encher a porra do meu saco.

Não sei o nome de milhares de capitais de milhares de estados. A minha vida inteira tirei 6 pra passar de ano. Leio pouco. Tenho fobia de sair de São Paulo. Sou meio flácida e corcunda. Ainda assim, quando um bom moço me oferece amor, me sinto ofendida. Porque é pouco e porque se parece com tudo a minha volta e porque, definitivamente, não tenho estômago pra ser minha vizinha.

Minha vizinha, que é absurdamente igual a todo mundo, é casada com um homem que poderia se passar por qualquer ser humano da terra. Eles vivem uma vida muito parecida com todas as outras. Uma parede me separa dessa realidade insuportável e eu os odeio por isso.

Enquanto isso, gosto bastante de rapazes que, numa festa, conversam de costas pra mim. Pessoas que pouco se importam com a minha existência me libertam de ser especial. Ou, melhor, de não ser esse pequeno e medíocre “especial” que é o máximo de especial que as pessoas podem sentir e dar e ter. Resumindo: me libertam de não ser especial

Se não me percebem não preciso entrar em contato com a dor suprema que é ser percebida de forma tediosa ou menor ou superficial ou igual todos se percebem e se têm e, por fim e rapidamente, não se suportam mais.

Sou imatura, egocêntrica e debilmente iludida por uma auto-estima analgésica de efeito rebote. E dane-se. Um dia o meu amor verdadeiro chegará e será diferente de tudo isso e nós vamos chorar de emoção por ter valido a pena não sangrar até a morte nos insistentes e rotineiros momentos de angústia e nada e vazio e solidão e inconformismo.

Tati Bernardi

27 de agosto de 2012

Sempre em frente...


Nem sempre, tudo é mil maravilhas. As vezes a vida te da uma rasteira imensa, e é aí que você vai precisar de toda a sua força e vontade de viver. De todos que te querem bem por perto, agora mais do que nunca. O negócio é erguer a cabeça e seguir em frente, ultrapassando cada dia como se fosse o último, mesmo que pra isso sua face se encha de lágrimas a todo instante e em sua mente passe um turbilhão de coisas a todo minuto. Sei que nem sempre é fácil espantar a tristeza, mas é como dizem por ai " força, foco e fé". E que amanhã, amanheça um dia melhor...


Anne Ribeiro

23 de agosto de 2012

Desiste



Nada do que você disser, vai mudar quem eu sou. 
Nada do que você disser, vai mudar o que eu sinto.
E desculpe a minha humildade de não ter nascido no meio de cobras no qual você habita. Pois nasci na mais humilde das habitações, fui criada caminhando no barro, na estrada de chão. Não digo que não vivi no meio da falsidade, posso ter vivenciado no meio de tais pessoas, pois na minha ingenuidade infantil, não sabia diferencia-las. Mas hoje em dia sei muito bem quem sou. Conheço quem me rodeia e sei como lidar com as situações. Já não sou aquela tola criança que não sabia diferenciar o certo do errado, o ignorante do ignorado, o falsário do pobre coitado. Eu cresci, e não me venha com esse papinho de coisa fácil. Com essa cara duas faces pro meu lado, que sua dupla personalidade não me engana.


Anne Laura Ribeiro

13 de julho de 2012

Já fui

Nem tudo é pra sempre, as pessoas mudam, o tempo passa, algumas pessoas evoluem e outras, bom nem vamos comentar. Pode ter sido bom ontem e hoje já não fazer mais sentido. Pode ter sido perfeito um dia e hoje não passar de consideração. Ontem posso ter chorado, posso não ter desistido, posso ter tentado continuar algo que já não mais existia e apenas eu não enxergava. Mas bem, todos temos limites e o meu chegou ao fim. A minha vida é outra, meus objetivos os mesmos, mas meus gostos não mais. Cansei de tentar sozinha, em vão. Quando sentimos falta de alguém vamos atrás, procuramos saber como essa pessoa está e procuramos nos fazer presente em sua vida. Se não sentimos, bom ai tanto faz. Só sei que não faz mais parte de mim, não me vejo mais nisso e agora vou continuar do meu jeito.

Anne Laura Ribeiro

10 de julho de 2012

Apenas mantenho distância


Eu preciso de um pouco de ar, ou talvez apenas voltar no tempo e evitar. Não queria que assim fosse, não queria que aqui chegasse, não queria sentir isso como eu sinto. É sufocante, agonizante e por vezes dramático. Já não consigo largar mão, deixar pra lá, esquecer. Tornou-se parte de mim, do meu dia, do meu sorriso. Tornou-se inevitável.
Dói dizer não, mas é necessário. Não quero pra mim o que não posso sentir, o que não posso tocar, o que longe dos meus braços possa estar. Só que por mais nada me interesso, tudo é tão normal, tão sem graça, tão fácil e sem adjetivos. Eu quero, quero muito sentir, mas não vem. Tá entalado, travado. Tudo é errado e imperfeito. Tudo e todos tem defeitos. Nada vale a pena a não ser meus próprios traços e desejos. Quanto egocentrismo o meu.
E assim continuo enclausurada em meu narcisismo. Longe do que possa me afetar e levar um pilastre dessa tão elaborada estrutura. Que possa abalar o maior e mais complexo dos meus mundos. Eu apenas mantenho distância.

Anne Laura Ribeiro


26 de junho de 2012

Força do silêncio



Tem um tempo que parei de contar tudo pra todos. Como minha boca tão grande quanto o céu que me expulsará num futuro pós-morte tem contribuído, tenho feito bom uso de uma vivência quietinha, o estar pianinho, e mesmo quando ansiosa e quase ligeira se torna minha paz de espírito, trato logo de avisar que é na despreocupação que as coisas tem chance de jeito.

Não é que coisas maravilhosas não tem ocorrido. Não. Bem pelo contrário: muito mais aos montes que na época em que, impulsiva, narrava antes mesmo do fato em si um sonho que desenhei por cima, com frágil papel de seda e lápis cinza - achando que não teria muito problema não e que, olho grande, pensamento gordo ou simplesmente inveja branca tinham efeito nenhum sob as circunstâncias a seguir. Teses, fracassos e muito pensar tardio, me dei conta que é melhor que nasça em mim hipóteses, que cresçam conforme os dias e germinem algo bom sem precisar ser dito, esfregado no rosto macilento alheio, por meio de elogios com uma felicidade tão gritante que mal cabia só em mim e precisava ser compartilhada ou na expectativa daquilo que se quer muito e vai pelo caminho, o futuro mesmo incerto: saber só é que é saber demais. Aprende menina falante, aprende.

E aí parei pra ver em quem esse efeito tinha maior ou menos proporção. Eis que quase em todo mundo, e talvez a culpa não fosse os sentimentos ciumentos dos complicados seres humanos e seus recalques, defeitos e preocupações. Que nada. Foi na fragilidade do que ainda não é que me dei conta que uma ansiedade, mais outra e ainda centenas vão afundando aos poucos o caiaque de felicidades possíveis noutros mares, vencendo ondas gigantes, ganhando terras à vista e demais planetas. Resolvi que fechar a boca até que tudo esteja nos trinques, dentro dos conformes imaginados e com um sorriso de orelha a outra, responderia apenas com o básico questionado, narraria banalidades do dia-a-dia, iria a fundo no passado, mas deixaria o futuro como assunto pra daqui um tempo (quem sabe, quando for presente ou pretérito perfeito tiver se tornado - muito melhor, não?).

Iniciei um diário, saí pra caminhar, pensei em mil outras coisas, marquei médicos, liguei para alguns queridos: tudo para preservar a sanidade do que está por vir. Sem manchas, arranhões, outros olhares, e o peso da opinião alheia, fechados a sete chaves todos os meus downloads da alma que estão bem encaminhados e em processo, mas não merecem ainda entrar na ciranda das boas histórias ou das tão perguntadas novidades. Quem sabe um dia, saber ser sozinho e se manter são e salvo da versão prolixa de nós mesmos, tomados pela força de um silêncio que muda ao invés de uma fala que promete. E surpreenda. Felicidade é também um estado contínuo de quietude madura.



Camila Paier.

12 de junho de 2012

Feliz dia dos namoridos



No centro do seu ser, você tem a resposta, você sabe quem você é e você sabe o que quer.

Ser profundamente amado por alguém nos dá força, enquanto amar alguém profundamente lhe dá coragem.


Lao Tzu

31 de janeiro de 2012

Quero pele com pele


Prefiro não levar a sério, fingir não acreditar, quem sabe assim me convença de que estou conseguindo. Não quero me encomodar, não quero chorar, não quero me decepcionar. Não vou me entregar, esquece, o bloqueio tá grande e vai ter que ralar. Tô cansada de palavras, de gente que fala demais e pouco faz. Na boa tenha atitude, pode ter certeza que ela vale mais do que mil palavras, mais do que muitos ' não paro de pensar em você' mais do que muitos ' te amo ' mais do que muitos ' quero você pra sempre '.
Não me dou bem com pessoas acostumadas com tudo fácil, com tudo prático. Gosto de quem dá valor ao que tem em mãos, que sabe como conquistar, que sabe que o que vale a pena não é fácil e principalmente que sabe levar tudo a seu tempo. Não quero palavras, quero pele com pele, só assim você vai saber quem eu sou, só assim vou me permitir sentir.

Quero você aqui, agora!



Anne Laura Ribeiro

Desabrochar de um modo ou de outro



"Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando[...] Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada. Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro... "



[Clarice Lispector]