16 de dezembro de 2010

Felizes pra sempre

      
                         (Em outras palavras, o final feliz pode sair das telas para a sua vida. Basta querer.)


        A sensação de eterno dá conforto, acalma os ânimos e oferece um cobertor para os sonhos. Vamos fazer um exercício emocional? Fecha os olhos e pensa na pessoa mais importante para você. Não falo do seu pai, mãe, irmã ou avó. Falo da pessoa mais importante no âmbito sentimental, falo de amor e romance, tesão e paixão. Sabe aquela pessoa que faz você ter vontade de ser melhor a cada minuto? Sabe aquela pessoa que faz você pensar ele-vale-qualquer-dorzinha-que-o-amor-causa? Sabe de quem falo agora? Então, pensa nele (ou nela). Fecha os olhos e pensa bem forte, até a imagem da pessoa surgir na sua mente. Pensa na pele, na expressão dos olhos, no dedão do pé, na espessura do fio de cabelo, na cor do sorriso, nas pintas, nos cílios. Pensa no impensável. Pensa naquilo que só você conhece, um jeito de rir, de escovar os dentes, de ser. Agora se concentre em você, na sua sensação. Eu aposto que seu coração se sentiu em casa, um velho conhecido daquela imagem que te faz tão bem. Porque quando a gente tem um sentimento forte por alguém, a gente se sente bem. Quando o mundo desmorona, basta ter a pessoa ao lado (nem que seja pra se jogar no colo e desmoronar junto).

[...]

          Descobri que a mágica está inteirinha no dia a dia, que é bom na maioria das vezes, e que algumas cenas andam em câmera lenta, de tão lindas, e que um dormir-e-acordar ao lado de quem você ama é a coisa mais valiosa que existe. Isso, sim, é coisa de cinema e o preço é se entregar: pague se tiver coragem (e não esqueça do aluguel e condomínio do novo apartamento, pois na vida real as contas existem - e vencem).


Clarissa Corrêa

11 de dezembro de 2010

Gosto de pensar assim:



se a gente faz o que manda o coração, lá na frente, tudo se explica. Por isso, faço a minha sorte. Sou fiel ao que sinto. Aceito feliz quem eu sou. Não acho graça em quem não acha graça. Acho chato quem não se contradiz. Às vezes desejo mal. Sou humana. Sou quase normal. Não ligo se gostarem de mim em partes. Mas desejo que eu me aceite por inteiro. Não sou perfeita, não sou previsível. Sou uma louca. Admiro grandes qualidades. Mas gosto mesmo dos pequenos defeitos. São eles que nos fazem grande. Que nos fazem fortes. Que nos fazem acordar. Acho bonito quem tem orgulho de ser gente. Porque não é nada fácil, eu sei. Por isso continuo princesa. Continuo guerreira. Continuo na lua. Continuo na luta. No meio do caos que anda o mundo, aceitar é ser feliz.


comunidade

8 de dezembro de 2010

Fenômenos da natureza

               

               Primeiro, ao estender canga e cadeira, o azul daquele céu era limpo, um azul forte e otimista, lembrando que o último dia do pior dos anos, vinha com um toque de blues, um azul feliz e desejável, constante nesses dias em que chuva e sol se alternam num teatro de fantoches vulneráveis.
              Óculos no rosto, música alta, e olhos fechados. Não acredito mais em ano novo, penso. Lamentável, porém  palpável. Quase real, se sólido fosse e forma obtivesse. Ano novo agora é uma data para encher as pessoas de sonhos mirabolantes, promessas falsas e que em sua maioria não serão cumpridas e fazer as pazes, seja com quem for. Até mesmo aquele que, a uns dias da escassez desses trezentos-e-sessenta-e-cinco dias insuportáveis, faz toda a sua mente travar e o seu corpo, víceras e sono, coração; perde o chão, a alma e o sentido. Escuto Engenheiros do Hawaii e canto alto Infinita Highway...Principalmente na parte em que a vida é tão confusa quanto a América Central, e que não me acusem de ser irracional. Singular. Exato, perfeito o que sinto no momento. Tiro o óculos, que me marca o rosto, desfazendo-me também da máscara colorida a qual vinha enxergando o mundo ao contrário, colorido como passeata gay e, olho as nuvens.
                As nuvens refletem o que nos é real, e seguem vagando, fluindo em meio aos ventos, às transformações urbanas, ilhas de calor. Mas transfiguram suas formas, em segundos, e muitas vezes, depois lá no final, outra pessoa a vê, do mesmo formato que você: elas tem a chance de voltar a ser como já foram, se reconstituir. Muito mais identificável. E olho atentamente, observo uma como um palhaço, outra nomeio de cobra e a lua também dá os ares, vezenquando, deixando transmutar suas nuances, noutras escondendo-se, tímida. A lua sim, me apaixona e enfeitiça. É uma louca apaixonada, que vê seu amor poucos segundos por dia, e continua solitária, no escuro, raindo para outros apaixonados; por ela, e sobre ela.
                Algo incomum surge. Eu observando, pensando na vida, e cantando alto as músicas dor-de-cotovelo antigas, mais trashs e anos oitenta que tenho, e um colorido me salta aos olhos. As nuvens tomam cor. Tudo lindo, num dia só: nuvem, lua e arco-íris. Eram umas nuvens meio pintadas, mas somente nas bordas, azul amarelo verde roxo e rosa. Lindo de se ver. Ótimo para pensar, nessa minha vida insignificante e na minha natureza paradoxal.
              Acompanhei por tais instantes esse espetáculo de fenômenos da natureza, e senti um feeling bom, uma coisa nascendo e aflorando, não quero chamar de esperança, tenho medo que se chame comodidade ou aceitação. Prefiro fé. Fé de que tudo isso vai melhorar algum dia, nesses nossos próximos trezentos e poucos, mesmo que à frente, luz nenhuma seja visível. Porque, mesmo que a gente tenha fé, não é aquele sofrimento ansioso de esperança, que se parece mais com pena ou loucura. Não. Na fé, é tudo com muita calma, aliás: a certeza é tão forte, que não há rapidez em viver. Depois disso tudo, o tempo fechou, tocou o relógio: meio dia. Hora de sair do câncer de pele futuro (e do câncer de alma, completamente mais perigoso e voraz).


Camila Paier

6 de dezembro de 2010


Hoje, analisando as mil teorias sobre encontros, reencontros e desencontros, penso que quando a gente tá a fim de verdade a gente faz. Simples assim. Vai, se dá, se mostra, se entrega sem medo de se quebrar em 1658 pedacinhos. A gente fica sem medo e sem vergonha. E o coração fica sorrindo, de braços abertos. E espaço reservado na área VIP.


Clarissa Corrêa

Daquilo que fica preso



Tem coisa que fica e que fere e que gruda feito cola de sapateiro. Sempre disse que quem fala esquece e quem ouve carrega dentro do peito e da mente tudo que foi dito – e carrega mesmo. Relembra. Remonta. Ouve cada sílaba. Palavrada na cara dói mais que chute no nariz. Palavrada na cara dói mais que dor de dente e cólica menstrual. Palavrada na cara atinge o coração, em cheio, no meio. Palavrada na cara dói, dói uma dor doída – e que demora pra sarar. Palavrada na cara às vezes não sara (nem com rima ruim e reza forte). Palavrada na cara tatua a palavra decepção na alma. E foi isso que aconteceu.
 
Um dia, você erra. Um dia, a outra pessoa toma o seu erro como aperitivo e resolve se embebedar. Abre a boca e fala, fala, fala, fala. Sem pensar, só fala. Machuca, agride, maltrata, detona, faz você se sentir pequena, um lixo, no chão. E você ainda tenta ajeitar tudo, sem sucesso. E a pessoa prossegue. Então, você se cala – e espera. Depois, desculpa. Desculpa, eu errei, foi mal, não faço mais. Mas já foi feito, foi dito, estragou. E você, no meio disso, tenta colar, remontar as peças, as coisas, os sentimentos. Tenta ver com clareza, achar de novo o caminho, sonhar junto um futuro. Mas só o tempo vai dizer se você consegue. Pelo menos, se serve de consolo, uma coisa é certa: você tem amor de sobra – pra dar e se manter em pé. Porque o seu coração precisa ficar vivo.



Clarissa Corrêa

5 de dezembro de 2010

Dias úmidos

 
A gente vai empurrando e deixando e remendando e engolindo e fingindo. Chega uma hora em que arrebenta a ferida: estoura, explode, sai pus, nojeiras e afins. É nesse momento que, ao invés de Band-Aid, pomada e beijinho, a gente precisa espremer mais um pouco e, quem sabe, enfiar o dedo fundo, forte, pesado e sentir a dor percorrer cada centímetro do corpo. É só após esse processo que tudo cicatriza – e a gente descobre até onde vai a própria força. E se supera (ainda bem). 

Depois, o tempo. É ele, querido e bandido, que vai mostrar o quanto o lugar onde estava a ferida vai latejar nos dias feios, carregados e chuvosos.
 
 
 
Corrêa C.