11 de maio de 2010

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(...) Beleza
            Do mesmo jeito que a natureza não escreve leis de rescisão de contrato, ela não nos equipa com estetoscópios e máquinas de tomografia computadorizada. Mesmo assim, surgiram sinais eficientes para os outros detectarem a saúde de um parceiro potencial, e, em última instância, sua capacidade de gerar muitos e bons filhos. Chamamos o conjunto desses sinais de “beleza”.
Claro que cada tempo e cada lugar tem seus padrões de beleza. Aquelas modelos com maquiagem dos anos 80 parecem palhaças hoje. E a depilação vaginal no estilo brazilian seria uma aberração há 20 anos. Mas moda é uma coisa e sinais de saúde e fertilidade são outra. Esses são universais no tempo e no espaço.
           Simetria, por exemplo. Ter um lado do corpo o mais parecido possível com o outro mostra que o seu organismo está ok – mutações genéticas desagradáveis, como nascer com uma perna muito menor que a outra, quebram nossa simetria natural. Diante disso, nossa percepção extrapolou a parte prática e nos muniu com um software que diz “quanto mais simétrico, melhor”. E são essas pessoas que qualquer um vai achar mais bonitas. Tanto que, para ficar feio, basta simular uma assimetria, como pintar um dente de preto na festa junina ou fazer uma careta. Até bebês de 3 meses passam mais tempo olhando rostos bonitos, os perfeitamente simétricos. E têm medo de careta.
          “As mulheres, inclusive, atingem mais orgasmos com homens simétricos”, diz a antropóloga Helen Fisher, da Universidade Rutgers, nos EUA. Faz sentido: a contração orgástica faz a mulher absorver mais esperma – suas chances de engravidar do bonitão aumentam.
E elas também ficam mais atraentes justamente quando estão mais férteis: as mãos, orelhas e seios (quem liga para mãos e orelhas?) ficam mais simétricos durante a ovulação.
Existem mais proporções que todo mundo acha naturalmente mais bonitas. Homens com o tronco em forma de triângulo, com ombros largos e sem gordura na cintura ou na barriga, são mais resistentes a vírus e bactérias. Eles podem dar filhos mais saudáveis, então seu corpo já parece mais saudável que os outros do mercado de corpos. Isso também vale para o maior indicador de fertilidade nas mulheres: a relação entre o tamanho da cintura e o dos quadris. Nos homens, nas crianças e nas mulheres que já passaram pela menopausa, a circunferência da cintura mede entre 80 e 95% da dos quadris. Nas mulheres em idade fértil ela fica entre 67 e 80%. Logo que ficam férteis, elas criam um depósito de gordura que serve como reserva de calorias para um eventual bebê.
                O instinto dos homens sabe disso, então eles ficam excitados só de ver uma proporção assim. E aí vale aquela regra da simetria: a cabeça extrapola isso e entende que “quanto mais fina a cintura e maior o quadril, melhor”. Pesquisas mostram que os homens gostam mais das que têm uma proporção de 70% ou menos. Faz sentido: os 90-60-90 (90 cm de busto, 60 cm de cintura e 90 cm de quadril) que os concursos de misses consideram como ideal de beleza representam 66%. A Mulher Melancia, capa da Playboy mais vendida no ano, tem 64% (75 x 119 cm). A garota, aliás, não teria problemas para arranjar namorado em nenhuma época. O psicólogo Devendra Singh, da Universidade do Texas, mediu 286 esculturas antigas de mulheres, vindas da Ásia, da África e da Europa, e viu que a proporção entre cintura e quadril nas obras ficava nessa faixa.
Um belo quadril, por sinal, não significa só mais filhos. Uma pesquisa da Universidade de Pittsburgh mostrou que as crianças que tinham mães com a relação cintura-quadril na faixa de 70% apresentavam um QI maior, em média, que as outras. A tese é que as calorias armazenadas ali ajudaram no desenvolvimento do cérebro dos fetos.
               Mesmo com essas vantagens todas, todo mundo sabe que um rosto e um corpo bonitos não são tão importantes quando o assunto é amor romântico. O apelo sexual das pessoas com esses sinais externos de saúde e fertilidade é absurdo. Só que ninguém se apaixona por uma bunda, por um par de ombros Michael-Phelpianos ou pelo rosto da Ana Hickman (tudo bem, aí até dá...). O ponto é que a beleza conta, sim. Mas, Vinícius de Moraes que nos perdoe, ela não é fundamental. Existe uma coisa bem mais importante: o sistema imunológico do outro. (...)

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