11 de maio de 2010

(...)

(...)Coisa de pele
                    A reprodução sexuada só existe por um motivo. E não é “dar prazer”. O prazer é só a droga com que o corpo nos recompensa pelo trabalho de combinar nossos genes com os de outra pessoa, já que isso pode gerar um filho.
                    E tem de recompensar mesmo: ter um filho é como fazer uma retífica de motor nos genes. Por exemplo: se você se reproduzisse por brotamento, como certas formas de vida, e tivesse nascido com um sistema imunológico que não soubesse se defender de algum tipo de vírus mortal, o risco de seu filho nascer com o mesmíssimo problema seria de 100%. Mau negócio.
                    Mas você é sexuado. Então basta juntar os seus genes com os de alguém imune ao vírus. Aí seus filhos têm mais chance de nascer com o patrimônio genético recauchutado.
                    Constituir família com uma pessoa assim, que tenha um sistema imunológico complementar ao seu, significa garantir uma prole com mais chances de sobrevivência. Ótimo negócio. Mas e aí? Como saber quem tem esses genes preciosos?
                    Parece inusitado, mas você tem um equipamento capaz de fazer isso: seu nariz. Uma experiência que já virou clássica, criada pelo biólogo suíço Claus Wedekind em 1995, mostra isso. Funciona assim: primeiro, os cientistas fazem testes em vários homens e mulheres para medir seus sistemas imunológicos. Depois, pedem que eles usem a mesma camiseta por alguns dias e devolvam ao laboratório. Então as mulheres cheiram as dos homens, e vice-versa. E cada um monta um ranking com os cheiros que consideram mais sexy.              Resultado: preferimos o odor de quem tem um sistema imunológico diferente do nosso. Quanto maior a diferença, mais gostosa a sensação de cheirar a camiseta. Se uma peça de roupa de alguém com um sistema imunológico complementar ao seu já dá prazer, imagine a pessoa inteira... Isso ajuda a explicar a “coisa de pele” alegada pelos casais apaixonados. Do ponto de vista do sistema imunológico, eles realmente são duas metades, um é a tampa da panela do outro. E que se dane que ele não seja o Cauã Reymond nem ela a Grazi Massafera. O amor pode até ser cego de vez em quando, só que tem olfato.
                      Mas o segredo do amor não está só na diferença. As semelhanças são fundamentais e também contam pontos no sucesso de um relacionamento. Há um pouco de Narciso aí dentro de você: na hora de se juntar para valer com alguém, pode achar feio o que não é espelho.
Almas gêmeas
                      Imagine o seu próprio rosto transformado em um do sexo oposto. É possível que você considere essa pessoa virtual como o melhor par romântico possível. É o que concluiu o psicólogo David Perret, da Universidade Saint Andrews, na Escócia, depois de pesquisar as reações de seus estudantes aos próprios rostos metamorfoseados. A maioria escolheu a si mesmo, sem saber, como o parceiro ideal.
Isso parece contradizer a história dos sistemas imunológicos diferentes. Mas, na verdade, uma coisa não invalida a outra: realmente existem casais que se parecem com irmãos, mas isso não significa que essas mesmas pessoas se sintam atraídas por seus irmãos do sexo oposto – cujas defesas do organismo são quase idênticas.
                     Mas é fato que as pessoas parecidas com você inspiram mais confiança, dizem os pesquisadores. Por quê? Segundo Perret, talvez porque elas lembrem o rosto dos seus pais, as primeiras pessoas em quem você confiou na vida.
Quando o assunto é atração sexual pura e simples, a vantagem é do tipos mais diferentes: um homem baixo pode ter a fantasia de transar com uma mulher muito alta ou uma princesinha de ir para a cama com um ogro. Mas, na hora de escolher para o longo prazo, é básico que haja identificação, seja na aparência, seja na mente.
                    “Todos nós carregamos uma marca psicológica que leva minúcias sobre experiências da nossa vida e as cicatrizes que essas experiências deixam em nós. Ao conhecer alguém que fisicamente possa nos interessar, procuramos escanear essas marcas nela”, diz o psicólogo Arthur Aron, da Universidade Stony Brook, nos EUA.
                    A idéia aqui é a seguinte: as pessoas que mais atraem você são aquelas que têm “cicatrizes” parecidas com as suas. Mas com algo a ensinar. “O parceiro ideal, nesse caso, é aquele que sofreu com problemas parecidos com os seus, mas encontrou maneiras diferentes de resolvê-los”, Aron afirma. Por esse ponto de vista, um homem que teve uma infância problemática vai preferir uma moça sensacional que passou pela mesma experiência do que outra tão interessante quanto, mas que não viveu nada disso.
Mas você sabe que não precisa saber a biografia toda de alguém para se apaixonar. Segundo pesquisas que Aron fez com pessoas que não se conheciam, meia hora de conversa é o suficiente para saber se existe alguma conexão. Se houver mesmo, algum tempo depois uma avalanche química vai invadir o cérebro. E você vai saber que se apaixonou.
                  O processo, lá dentro, começa com descargas de dopamina – a mesma substância que a cocaína e a heroína ativam no cérebro. É ela que faz você se sentir violentamente feliz quando o ser amado está por perto. É ela que dá a sensação de que o mundo todo está soltando fogos enquanto vocês se beijam. Por outro lado, os efeitos colaterais são insônia, taquicardia e falta de apetite. Sem falar na sensação de dependência química – as dores físicas que os apaixonados sentem têm um paralelo nas crises de abstinência dos viciados em drogas.
                 Essa montanha-russa é demais para qualquer organismo. Por isso mesmo a paixão tem data para expirar: até 3 anos. E o que a faz evaporar é justamente um relacionamento saudável. Isso mesmo: quem destrói os hormônios da paixão são substâncias que o corpo libera durante os orgasmos (veja na página 100). Se a relação continuar bem, elas vão fazer você se sentir cada vez melhor com o seu par, fortalecendo os laços entre os dois. E serão o gatilho para o instinto de virar mãe e pai – as mulheres, por exemplo, têm esses mesmos hormônios ativados durante a amamentação. Aí todos vão viver felizes para sempre... A não ser que um dos dois pule fora para recomeçar esse jogo todo com outra pessoa. Afinal, paixão vicia. E nem todo mundo usa com moderação. (...)

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