6 de dezembro de 2010

Daquilo que fica preso



Tem coisa que fica e que fere e que gruda feito cola de sapateiro. Sempre disse que quem fala esquece e quem ouve carrega dentro do peito e da mente tudo que foi dito – e carrega mesmo. Relembra. Remonta. Ouve cada sílaba. Palavrada na cara dói mais que chute no nariz. Palavrada na cara dói mais que dor de dente e cólica menstrual. Palavrada na cara atinge o coração, em cheio, no meio. Palavrada na cara dói, dói uma dor doída – e que demora pra sarar. Palavrada na cara às vezes não sara (nem com rima ruim e reza forte). Palavrada na cara tatua a palavra decepção na alma. E foi isso que aconteceu.
 
Um dia, você erra. Um dia, a outra pessoa toma o seu erro como aperitivo e resolve se embebedar. Abre a boca e fala, fala, fala, fala. Sem pensar, só fala. Machuca, agride, maltrata, detona, faz você se sentir pequena, um lixo, no chão. E você ainda tenta ajeitar tudo, sem sucesso. E a pessoa prossegue. Então, você se cala – e espera. Depois, desculpa. Desculpa, eu errei, foi mal, não faço mais. Mas já foi feito, foi dito, estragou. E você, no meio disso, tenta colar, remontar as peças, as coisas, os sentimentos. Tenta ver com clareza, achar de novo o caminho, sonhar junto um futuro. Mas só o tempo vai dizer se você consegue. Pelo menos, se serve de consolo, uma coisa é certa: você tem amor de sobra – pra dar e se manter em pé. Porque o seu coração precisa ficar vivo.



Clarissa Corrêa

Nenhum comentário:

Postar um comentário